quarta-feira, 23 de setembro de 2020

12/08/19


E pelos céus ecoou 

As trombetas celestiais. 

Elétrico, como um raio. 

Ela surge banhada em prata. 

 

Seus olhos negros vislumbram a paisagem. 

Seu doce mel, reflete sobre o fértil pensamento. 

“Beije-a” pensou ele, 

Mas a fumaça havia lhe consumido. 

 

Ela era vibrante,  

Como se a vida lhe corresse por suas glândulas. 

Fúria, 

Ela sorria. 

Queria o mundo e queria agora! 

 

Aos sons de boleros, 

O doce aroma ia embora. 

E as flores pensavam: 

“Será que a veria de novo?” 

Como a maré, 

Que sempre volta de encontro a praia... 

Trazendo novas surpresas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

*Poesia Sem Nome #01*

 

Só quando pude vê-la passar
Seus olhos mostravam-se vivos
O costume de deixar para depois se rendeu
E um sorriso fugiu de seu rosto.

Ela queria,
Mas temia,
Que algo além de seus limites
Pudesse transmitir o que sempre sonhou:
Liberdade,
Amor
E euforia.

Sua hora havia chegado!
Estrelas brilhavam no céu
Mostrando o caminho para a salvação.

Seu nome,
Que transmitia paz,
Jazia selado em sua alma.

O medo se distribuía
E batia em retirada.
Tudo estava
Orquestradamente planejado
Para que a felicidade
Dormisse em seu seio
E gozasse de sua simplicidade.




19/08/2019

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Quando viajei para o ano de 1500


Segunda de manhã.
Oito horas,
Crianças se reúnem à beira do ônibus:
Viagem de catequização.

O Instrutor retoca o rebanho.
Sorrisos estampavam jovem rostos,
a fuga da prisão ainda seria divulgada.
O calor emanava das correntes.

O motor liga,
a vibração passa por todos o passageiros, em forma de energia
química e espiritual.
O xamã lidera o grupo.

A Cidade se agitava, daqui e ali.
Gaivotas cantavam com pombas cinzentas de praça,
O Gol se marcava de longe,
mas agora parávamos no vermelho.

O xamã dá mais um sinal e o ônibus se apruma.
Miremos no espaço.
De cima vimos o mar e
florestas desmatadas.
Bem próximo, há a Lua e a bandeira americana.

 

O cetro volta a apontar pra baixo
e descemos em direção à autoestrada.

 

O xamã corta os outros,
Como um facão cortando a mata.
Logo nos adentramos fundo a selva.
Cruzamos um rio,
subimos uma colina
e Voi-lá!
Chegamos na nossa Igreja.
Aterrizamos numa tribo indígena, a 50 quilômetros dali.

Missão de Catequização. 

O Instrutor dá as boas vindas.
Primeiros contatos,
trocam-se espelhos por vinho.
Porém, antes de interagir,
o cacique nos apresenta o lugar:

Grande casa, onde todos se debruçavam a noite.
A Oca Secular, onde os padres benziam
e ensinavam os evangelhos aos "selvagens".
Um amplo campo de futebol, onde todos agora se encontravam.

Minha memória é fraca,
incapaz de lembrar de tudo.
De longe sentavam eles:
Jovens garotos, de lindos corpos e pele escura.
Meninas formosas, que tentavam imitar a mãe com seus laços e ébanos.
Todos de crânio macio e de alma violentada.
O mundo os judiara.

Agora sofrem com o jejum eterno da manhã.

“Que nos alimentemos, de carne e conhecimento!
Não haverá Um vitorioso. Mas sim!
Duas nações, que antes não se conheciam,
se unindo em prol de Deus”
disse o Padre.

 

Seguimos,
com a bola cerimonial largada ao campo.
Uma gritaria tomou o ambiente
E os sequazes se organizaram contra os nativos.
Foi uma guerra anêmica!

A profecia se deu por vencida
Após duas longas horas
Já não havia mais jogo
Os guerreiros, cansados,
largaram suas armas e
se juntaram a tribo.

Não havia mais dois.

Nos aglomeramos em volta da fogueira
os Deuses rogavam por nós!
O Nosso e os Deles.
Um festival nascerá de nosso ventre.
O xamã pregava seu ritual
junto ao padre,
que comungava com os guerreiros.

Ceamos,
Abraçamos,
Nos despedimos,
Pra trás deixávamos os aborígenes.

 

Aprendemos com eles,
mas agora era hora de voltar pra casa.
Entramos todos para nossa Máquina do Tempo.
O xamã então a invocou.

 

* Vrummmm... *

Adeus,
Adeus a terra indígena,
Adeus a selvageria
Adeus a Floresta.

Enquanto íamos, eles iam se desfazendo
na nossa mente quadrada e ignóbil.
Embora essa tarde não tenha passado de uma projeção em nossos crânios,
suas dores, seus penares, suas almas carcomidas e corpos,
sua luta e seu sofrimento,
ainda reside,
ainda clamam por ajuda.
Nossa religião não gerou os frutos esperados.

E agora retorno
para minha caverna
para pensar. Refletir sobre o acontecido
Retorno ao meu crânio e recito os fatos.
Escrevo a história narrada, como o desenhar de um quadro.

(Eu fui embora, a dor deles não).

18/08/2020




(Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 de Oscar Pereira da Silva, 1865 - 1939)


O Martelo de Nietzsche


Eu fecho o olho E percebo A forma do invisível.
O vazio que me encara
Se escancara com o indivisível.
Mas agora,
Em um relampejo,
Eu vejo

A face do meu criador.
Que se debruça sem sabor
Perante a desordem
Da minha frágil mente jovem.
Ele guia o seu filho
Como quando foi ensinado.
Leva-o ferido
Como um pastor cuidando do gado.
E o mostra
A casa dos falsos profetas

O vazio então se fecha
O batimento aos poucos se afina
Meu caminho vira uma reta
A verdade escapa por detrás das cortinas.



10/06/2020