segunda-feira, 17 de março de 2025

Ode ao acaso

 

O poema a seguir foi um exercício praticado em uma aula de Artes. A tarefa era escolher alguma reportagem (a qual foi sobre terror slasher) e recortar diversas palavras. As palavras eram colocadas em algum recipiente onde tive de pegar sem ver e formar uma poesia feita ao acaso. A cada palavra tirada um verso aparecia.



Podridão humana
desconhecido
pulsa
  humanidade
psicológico
sangue
  cruas
 irreal
 o medo
Pesadelo
Slasher
Terror


Podridão Humana
Humanidade
Cruas
O Medo 
Slasher
Terror


Pulsa
Sangue
Pesadelo
Terror


Desconhecido
Psicológico
Irreal
Terror


Data: 11/03/2025



Things Have Changed: Entendendo os significados da música de Bob Dylan


O comentário de Dylan em estar deslocado do mundo, mesmo estando junto a ele - aqui, mas não aqui - se espalha múltiplas vezes em suas canções. Nunca esteve lá desde o começo - Times they are a-changing lançou uma certeza que corria em várias outras canções antigas.

O problema com Times, no entanto, era que a canção mais famosa de Dylan estava fora de sincronia com o resto do álbum, que dizia claramente que os tempos não estavam mudando e que, por exemplo, os horrores da pobreza e exploração rural, ou do racismo e da injustiça, estavam preso na sociedade e nas políticas americanas. 


Então que coisas mudaram? Bem, apenas porque o cantor que antes costumava a se importar, mas agora nem se dá o trabalho de fazer isso.

De fato, foi isso o que Dylan disse abertamente quando ele ganhou o seu Oscar - ele a chamou de uma música que "não anda com rodeios nem faz vista grossa para a natureza humana."

Claro que musicalmente, a partir do desenvolvimento de seu imagético surreal que chegou com o desenvolvimento da instrumentação voltada para o rock no trabalho de Dylan, é possível encontrar mudanças. Mas em termos de natureza humana, do momento em que "Hollies Brown puxa seu gatilho" e "a noite começa a pregar peças quando está tentando ficar quieto" tudo começa a se desmoronar para sempre. Bob tem seus momentos de felicidade em momentos como no interlúdio Country Pie ou em momentos parecidos, mas a sensação que ele deixa em suas obras refletem em como ele é, às vezes se importando e às vezes não.

 Nessas canções, existe uma certa frequência em que o ouvinte se pergunta "O que está acontecendo?" Seja dentro ou fora da música. Mas, se há uma canção onde mais se encontra essa indagação é em "Things Have Changed".


Um homem preocupado
Com uma mente preocupada
Ninguém na minha frente
E ninguém atrás

O verso inicial é o suficiente para guiar o destino da canção, ou melhor, que não se faz ideia de qual direção ela poderá ir. E quando menos se espera, o ouvinte percebe que o cantor está falando sobre uma mulher "bebendo champanhe, com sua pele branca e olhos de assassino."

"Olhos de assassino? O que seriam olhos de assassinos?" Não fica bem claro, já que ela vem de outro mundo. Aqui, o deslocamento é completo. A única certeza é de que há um olhar e pronto.


De pé na forca
Com a cabeça em uma corda
A qualquer momento
Espero que o inferno se espalhe

Neste mundo, as pessoas vêm e vão, falando, mas sem dizer nada. O passado ainda não aconteceu, o futuro foi ontem. Eu sou você, você é ele e ele não é. T.S. Elliot chuta seu verso para o subconsciente de Dylan mais uma vez: 

Ruas que seguem como um argumento tedioso

De intenção insidiosa

Para levá-lo a uma pergunta esmagadora

Oh, não pergunte "O que é?"

Vamos fazer nossa visita

Na sala as mulheres vêm e vão

Falando de Michelangelo.

A névoa amarela que esfrega suas costas nas vidraças,

A fumaça amarela que esfrega seu focinho nas vidraças,

Lambe suas línguas nos cantos da noite,

Permanece sobre as poças que ficaram nos ralos


É claro que ele deveria estar em Hollywood, fazendo aulas de dança, vestindo-se de Drag. Ele deveria, pois aqui já não resta nada para se provar. O problema é que em todo lugar, não há nada a se provar, a névoa amarela envolve tudo.

Sua voz está cansada e o acompanhamento controlado e bem ensaiado, o pulso moderado, não tem nenhuma tentativa de se tornar uma performance virtuosa, não há nenhuma mudança inesperada de acordes, porque não são os músicos individuais que fazem o ponto - o ponto é a situação, aquele mundo que deu errado. Naquele mundo, é possível se apegar a constância da música, porque não há outra constância. 


Sinto como se estivesse me apaixonando

Pela primeira mulher que me aparecer

Colocando-a em um carrinho de mão

E a empurrando pela rua

(Onde mais se colocaria uma mulher de olhos assassinos enquanto uma névoa amarela se enrola ao redor e as classes cultas falam sem dizer nada?)


E quando o ouvinte já se acostuma com a estranheza e começa a criar clareza com o que Dylan diz, ele subitamente...

Sr. Jinx e Sra. Lucy pularam no lago

Eu não estou tão ansioso para cometer um erro

Sr. Jinx era um personagem do desenho Pixie e Dixie. Hoje, o Sr. Jinx está disponível em diversos merchandisings. Talvez fosse um momento passageiro do personagem de desenho animado, ou talvez seja uma reflexão, para mostrar que ele também não é real. Exceto que não há distinção entre real e irreal.

E a música continua, usando sua rotina de três acordes com acompanhamento simples. O cantor não fica animado. Existe um continuum, mas continua não fazendo nenhum sentido. 


Link para a música Things Have Changed.

Link para o momento em que Bob Dylan ganha um Oscar.




Fonte: Things Have Changed: The meanings behind the Bob Dylan's song

Traduzido por: Cris del Mar

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Celebração Do Lagarto

Tradução do poema Celebration of the Lizard de Jim Morrison, tocado pela banda The Doors.



Celebração do Lagarto


Leões nas ruas & vagueando
Cachorros no cio, raivosos, espumando
Uma fera enjaulada no coração da cidade

O corpo de sua mãe
Apodrecendo no chão veranil.
Ele fugiu da cidade.

Ele foi para o Sul
E cruzou a fronteira
Deixando o caos & desordem
Ali atrás
Sobre seu ombro.

Numa manhã ele acordou em um verde hotel
Com uma estranha criatura gemendo ao seu lado.
Suor escorria de sua pele brilhante.

Tá todo mundo aí?
Tá todo mundo aí?
Tá todo mundo aí?
A cerimônia está para começar.



Acorde!
Você não consegue lembrar onde esteve.
Esse sonho tinha terminado?
A serpente era de ouro pálido, envidraçada & encolhida.
Tinhamos medo de tocá-la.
Os lençóis eram quentes prisões mortas
E ela estava ao meu lado, velha,
Ela não, era; jovem.
Seu escuro cabelo ruivo.
A macia pele branca.
Agora, corra até o espelho no banheiro,
Olhe!
Ela está vindo aqui.
Eu não posso viver em cada lento século de seu movimento.
Eu deixo minha face escorregar
Na úmida superfície gelada.
Sinto o bom e frio sangue ardente.
O brando sibilante das serpentes na chuva...



Outrora eu tive, uma brincadeira
Eu gostava de rastejar, de volta para dentro de meu juízo
Acho que você sabe, qual a brincadeira que quero dizer
Me refiro ao jogo, chamado ‘enlouquecer’

Agora você deveria tentar, esta brincadeira
Só feche os olhos, esqueça seu nome
Se esqueça do mundo, se esqueça das pessoas
E nós ergueremos, uma torre diferente.

Esta brincadeira, é divertida de se fazer.
Só feche os olhos, não há como perder
E eu estou bem aqui, também estou indo
Perca o controle, estamos avançando

Cavando de volta ao juízo
Regresando e passando pelo reino da dor
De volta aonde nunca teve nenhuma chuva.

E a chuva cai suavemente pela cidade
E sobre a cabeça de todos nós
E nos labirintos de fluxos
Abaixo, a calma e sobrenatural presença de
Apreensivos moradores das colinas ao redor,
Répteis infestando
Fósseis, cavernas, ar fresco das montanhas.


(Cada casa repete um molde
            Janelas cerradas, bruto carro
                      Trancado até o amanhecer.
Todos agora dormindo, tapetes em silêncio,
                    Espelhos vagos, poeira cega
                              sob a cama


Do casal legitimado vexame
          nos lençóis & filhas,
                      garridas com sêmen, olhos
                                            nos mamilos dela.)


Espere!


Houve uma chacina por aqui.
            (sirene)

            (Não pare para falar ou olhar ao redor
            Sua luvas & seu leque estão no chão
            Estamos deixando a cidade
            Estamos adentrando a jornada
            E você é aquela que eu quero que venha)



Sem tocar a terra
Sem olhar o Sol
Nada resta a fazer,
Senão marchar, marchar, marchar
Vamos marchar

Casa no topo da colina
A Lua está imóvel
Sombras das árvores
Testemunhando a briza selvagem
Venha bebê
Marche comigo
Vamos marchar

Marche comigo
Marche comigo
Marche comigo,
Vamos marchar

A mansão é calorosa no topo da colina
Fino são os quartos & os confortos de lá
Vermelhos são os braços das luxuosas cadeiras
& você nada saberá até que se adentre.


O cadáver do presidente está no carro do motorista
O motor funciona à base de grude e piche
Venha comigo, nós não estamos tão longe
Para Leste para encontrarmos com o Czar.


Marche comigo
Marche comigo
Marche comigo,
Vamos marchar


Alguns foras-da-lei vivem à margem do lago

A filha do pastor está apaixonada por uma serpente

Que vive em um poço à beira da estrada

Acorde, garota, estamos quase em casa.

Devemos ver os portões logo pela manhã,
Devemos estar lá dentro ao anoitecer.

Sol Sol Sol
Queima Queima Queima
Logo Logo Logo 


Lua-Lua-Lua
Eu vou te pegar
Em breve
Em breve
Em breve!




                (Silvo)

Deixem os sinos do carnaval tocar
Deixem a serpente cantar
Deixem tudo


                (Sinos)

                 Desbotamento

             Noite no Deserto

              Vozes do Fogo


“Nós viemos de rios & estradas 

Nós viemos de florestas & cascatas 

Nós viemos de Carson & Springfield
Nós viemos da dominada Phoenix 

E eu posso lhe contar os nomes do Reino

Eu posso lhe contar das coisas que você conhece

Escutando por um punhado de silêncio
Escalando vales dentro da escuridão”







                      Sons do fogo

            (sibilos, cascavéis, castanholas) 


“ Eu sou o Rei dos Lagartos
Eu posso fazer qualquer coisa
Eu posso fazer a Terra parar de seu curso
Eu fiz os carros azuis irem embora.


Por sete anos eu habitei

Nos amplos palácios do exílio,

Jogando jogos estranhos

com as garotas da ilha.

Agora eu retorno
Para a terra dos justos, & dos fortes, & dos sábios.


Irmãos e irmãs da pálida floresta
Oh Crianças da Noite
Quem entre vocês irá marchar com a caçada? 


                                                              -Gritos de assentamento-


Agora a Noite chega com sua púrpura legião
Aposente-se agora para as suas tendas & para os seus sonhos
Amanhã entraremos na cidade do meu nascimento
Eu quero estar preparado.”


Música

-Desbotamento-
Fim









Music by The Doors
Copyright 1970. Doors Music Co.
Traduzido por Cris del Mar