quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Pensamentos Livres #19

 



E pensar no nasce e morre de todo dia


28/08/2023



*Poesia Sem Nome #04*

 

Tenho até hoje
a marca que você deixou em meu corpo

           É trágico pensar
                        que algo tão bom
                                     se torna efêmero

Mas nas entrelinhas da vida
segue assim

A maré traz pessoas tão boas
Que mesmo em um curto espaço de tempo

Marcam

E fazem valer a próxima jornada


- 12/05/2024

Insight sobre a minha Felicidade Plena


Eu levo comigo essa constante sensação de que nunca vou ser feliz de verdade. Pelo menos é o que eu acredito. Eu vi uma entrevista onde Maria Bethânia dizia que "não existe felicidade, mas sim, alegria e coragem." E acho que essas palavras cabem muito bem no que eu vou dizer agora. Primeiramente, queria contextualizar para o leitor que o conceito de felicidade, antes de mais nada, foi-me apresentado como um tipo de produto - ela sempre foi entregue e vendida desse jeito. Produto esse feito pra vender coisas, uma ferramenta do sistema econômico. Entendendo isto, concluo que meu subconsciente às vezes interpreta a felicidade como uma recompensa capitalista. Segundo, gostaria de afirmar que me identifiquei muito com a frase de Bethânia, pois com ela compreendi que a felicidade e a alegria são coisas completamente diferentes e gostaria de ressaltar aqui tal diferença. Felicidade, da forma como ela é vendida apresentada, faz parecer que ela seja duradoura, eterna. Entretanto, demorei tempo demais nessa vida pra entender que nada é duradouro, mas que tudo é passageiro. Já a alegria está mais para uma sensação momentânea, onde a própria palavra, gramaticalmente falando, transmite isso: "Você está alegre." E eu sinto uma onda, uma correnteza, quando eu digo: "Alegria". Como se a palavra fosse uma transmissão de rádio, pairando pelo ar e entrando pelo cérebro.

Entretanto, acho irônico debater tudo isso sabendo que em vários momentos da minha vida eu acreditei que já fui feliz, verdadeiramente feliz. Eu senti a felicidade me invadindo de forma tão abrupta que deixei-me convencer que ela perduraria para todo o sempre. Costumam muito me perguntar: "Você é feliz em sua vida?" E às vezes não sei o que responder, uma mistura de sim e não. Tem momentos em que sou feliz de verdade e tem momentos que desejo a própria morte, como ser queimado vivo. E quando Bethânia ressalta sobre a sua alegria e sobre a sua coragem, entendo o significado de duas coisas tão distintas. É Alegria pra sentir momentos bons e recompensadores e Coragem para não se deixar levar pelos pensamentos melancólicos.

Eu sinto que a última vez que me senti feliz assim - ou alegre - foi com uma pessoa que marcou muito a minha vida. Mesmo que hoje eu tenha outro olhar sobre ela, ainda sou muito grato pela caminhada que tivemos juntos. Me faz pensar sobre a felicidade e a forma como ela é - ou acaba se tornando - uma coisa ilusória. Reflito essa ideia de nunca conseguir ser feliz plenamente, porque aquilo que eu busco e almejo pra minha vida - e isso desde de pequeno, onde cresci com essa ideia tradicionalista enfiada na cabeça de que é necessário se ter uma relação com alguém, ter algo, uma conexão e toda essa história, casar e blá, blá, blá, ter um "felizes para sempre" (e no fundo fazer parecer ser o que mais desejo, no sentido romântico) - está cada vez mais difícil, pois as pessoas estão mais e mais afastadas uma das outras e querendo ainda mais distância dessa ideia antiquada e conservadora. Em contra partida, vejo toda uma dualidade dentro de mim, porque sinto que aquilo que eu estou predestinado vai para um lado oposto disso, dessa vontade brega que está pregada em mim. E essa dicotomia acaba me levando para lugares distantes, me causando uma certa frustração e um vazio ao pensar que eu nunca vou encontrar essa tal felicidade plena com alguém. E é um pouco irritante saber que nunca vou ser feliz de verdade, ao menos nesse sentido.

Às vezes sinto que prevejo o meu futuro. Tenho certas intuições sobre o que vai me acontecer - o que pode me causar uma certa dificuldade para escapar de certas situações. "Às vezes é mais fácil aceitar, por mais que doa." Eu sinto que minha vida inteira foi de solidão e que ela ainda vai ser meio cheia disso. Quem sabe com alguma falsa admiração ao meu redor? Não sei. Sinto que não vou conseguir isso que eu almejo nunca, por mais que eu tente. Ainda mais sabendo que a felicidade é um mito! Talvez seja só ilusão e pretensão minha acreditar que dá pra ser feliz de fato nessa vida, afinal, já se passaram tantos momentos e tentativas que acabei desacreditando. E foi justamente na minha última experiência em que desacreditei de vez de tudo isso. Desse "achismo", dessa sensação de perenidade. É quase que divino. Como se o universo me dissesse para focar em coisas mais importantes do que a minha própria felicidade.

E talvez esse seja meu maior vazio. Entender que sou predestinado pra outras coisas e não pra ser feliz de fato. E talvez essa seja a minha maior tragédia. Entender que sou predestinado a solidão e não ao amor, logo eu, que tenho tanto para dar em troca. Por isso sinto que eu mereço a solidão, porque ela sempre me acompanhou desde que nasci nesse corpo. Ela sempre esteve ali, ao meu lado. Eu não sinto que mereço algo além disso. Talvez essa seja a parte mais difícil, aceitar que, no fim, só existe eu mesmo e todo o resto, toda essa fantasia, essa historinha, essa tradição, conservadorismo, ferramenta capitalista, chame do que for, tudo isso, está longe de se tornar real.

Hoje me considero uma pessoa alegre, mas que não é feliz. Sou ciente de que felicidade tem haver com plenitude e alegria com momento e com isso, estou ciente de que não vou atingir essa plenitude tão cedo em vida. Para isso, pretendo aproveitar cada momento dela tentando achar essa felicidade. Caso contrário, irei passar o resto da minha vida injuriado, sentindo esse vazio - que alastra. Por tanto, preciso ir e encarar essa busca de me encontrar. Aceitar que a felicidade vem de dentro de mim e só de mim. E farei o meio dessa tormenta a minha arte. Pois nela destilarei as minhas próprias dores e conflitos e as transformarei em beleza. Me alegro em dizer que já fui feliz algumas vezes. Prefiro deixar com que a felicidade venha no tempo dela, como um borboleta indo de encontro ao jardim.



- 10 de março de 2024.