quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Quarentena


Oh Budha,

Canções Antiquadas

Velho Sistema Binário

Neurose se espalhando

Crianças brincando de minerar num quarto escuro

Coração pulsante, explosivo

Desejo de viver e sair

Prisão domiciliar

Ato Heróico e Bravio

Surto Coletivo

Segundas passando por segundos

Tempo congelado

Noites mal-dormidas

Medo do futuro

E um pouco de entretenimento nas terças.


Casa de mil olhos

Único ganhador

Representatividade e propagação de ódio

Feminismo e radicalidade

Café para aquecer o coração

E quem sabe uma reza.

Uma reza,

E uma reza para Budha.

Que está sempre me olhando

Que está sempre vigiando

E me encobrindo 

De todo o mal na minha cabeça

Me guiando à uma iluminação

Minha iluminação.


Em face com meu próprio ser.

Abraçando os demônios.

Procurando por uma falsa verdade

Se enganando por placas de estrada

A TV te julga por não fazer nada.

Notas profundas.

Músicas de defuntos 

E poemas para os mortos

Não haverá mais vida após a morte.


Políticos sanguessugas

Vagando pelas palmas sebosas

Idolatria escandalosa

Criança no poder

Mentiras,

Mentiras e mais mentiras

Sobre quem você é.

Sobre o que você quer.

Do que você realmente gosta?

Gostar.

Substantivo.

Palavras e sons.

Macacos evoluídos

Ou Simulação da Realidade?


Catalogando mapas

Lutando por ideais

Procurando emprego

Pra ter o que gastar

Pra precisar de um emprego

Pra comprar,

Mais, Mais e Mais.

Deixar alguém rico

Ficar cada vez mais pobre

Perceber a importância da vida

Pensamentos Marxistas na varanda

Fumando um cigarro.

Não fume

Necessidade de um cigarro.


Desejo de bebida

Entorpecer.

Desejo de marijuana

Haxixe.

Paquistão

Guerras econômicas e velhos Jihads.

Pandemia.

Morte ou isolamento. 

Quarentena

Qua-ren-te-na.

Substantivo para

Falta de contato

Falta de amizade

Sem abraços

Sem pequenos prazeres

Sem bares

Sem surpresa

Tediosa rotina

Estagnado.

Derretido.

Pessoas falindo.

Justiça poética.

Cegos em meio ao tiroteio

Que a vida lhe reserva.


Qua

Ren

Te

Na

.





- Abril de 2020.


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

*Um poema que fiz para ela*

"Volto ao jardim
Com a certeza de que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti" 

- Cartola


*A música continua a ecoar. E o poeta então proclama:*


Oh, meu bem
Não chores mais, meu bem
Não vê que eles zombam é de mim?

Oh, meu bem
Não chores mais, meu bem
Não há motivos
E o seu sorriso já fala por ti.

Venho lhe mostrar,
Mostrar a beleza do mundo
Que se esvai quando choras sozinha,
Vindo de seu amor impuro.

Não deixe de esquecer,
Esquecer que não podes parar,
Porque a lua que se estende ao céu
Continua sempre a brilhar.

Sinto um vazio,
Um vazio em meu coração,
Pois seu amor foi embora
E as batidas jamais voltarão.

Procure pelas rosas,
As rosas do teu coração
Que murcham quando estão sozinhas
Mas renascem em cada verão.

E em teu sorriso,
Me encanta e encanto de ver,
Que a felicidade presente em você
Nunca vai parar.


(Janeiro de 2016)




(La Jolla Arbor - Guy Rose - XIX/XX séc.)


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

*Poesia Sem Nome #02*

Venha,
Oh! Velho cão sarnento
Bill, o Cólero.
Venha abraçar as mãos de seu aflito pai.
Um bom filho a casa torna.
Hoje é dia de comemorar,
Nenhum sofrimento é em vão!
Suas asas feridas somente são bonitas
Após serem cicatrizadas.

Mas deixa tudo isso pra lá,
É melhor seguir o fluxo
E aceitar a situação.
Levar a vida de forma leviana
E arrebatar os pecados que foram
Largados dentro da carne.
Vamos sorrir,
Sorrir para o cetro do destino!
Beijar os ponteiros do relógio,
E festejar a volta de Bill.

Enquanto outros,
Loucos forasteiros,
Observam o sangue secar
E manchar a roupa da alma,
Aquela mesma que foi despida por luxúria e poder.
Agora anda com o cego,
Pois não sobrou ninguém para crer.
Ismael foi-se embora.
Quem agora irá contar sobre a perda de seu capitão?
Ahab,
Amarrado ao seu próprio inimigo.
Afogado,
Pelo próprio desejo.
Vingança ou prepotência?
- Destino!
Cada um há de julgar como quer,
Pois a mão com o martelo
É a mão que alimenta
E supre a necessidade de cuidar.

Oh Bill,
Que felicidade!
A sua volta significa muito para mim!
Venha, 
Tome um gole deste vinho amargo,
Coma desta suculenta carne.
Seus olhos, cansados, já viram de tudo
E mesmo assim ainda lhe falta tanto...
Nessas horas,
Não deves se tornar apressado.
Siga no seu passo
Ou algo lá fora irá te devorar.
Deite em seu leito,
Comece a sonhar.
Fico feliz de te reencontrar.
Amanhã partiremos para mais uma jornada.
Me pergunto quem aqui entre nós irá retornar.



quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Chuva de Setembro


 Eu sinto falta de um belo dia chuvoso.

                                    Realmente sinto!

                           Eu sinto falta disso.


De um dia frio,

    Numa tardezinha aconchegante

              Onde chove por horas e horas

                          E eu ali
                            Na varanda, lendo um livro

E vendo a hora passar.

Deitado numa rede, talvez trocando uma prosa com alguém

   Observando os cachorros a brincar.
          Eles correm,
                  Se contorcem para se secar

E deitam todos juntos
            Em bando, se aquecendo um com o outro.

Até que meus olhos se fechem,
      Caindo num delicioso sono
              E tudo isso diante desse glorioso cenário…

        Doce cenário!

Então meu deleite termina
    Com alguém me acordando e dizendo:
              “O jantar está na mesa, vamos?”

  Cara, como estou triste agora!
Quando que o ser humano vai parar de foder com o planeta Terra?
        Quando iremos voltar às nossas raízes?
                    Quando deixaremos tudo isso de lado?
                                Até quando iremos suportar?

Quando?






- 01/09/2020

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Insight sobre o Amor


Até então, eu achava que não conhecia o amor. Tive várias experiências em minha curta vida, mas nenhuma delas terminou bem-sucedida. Não que não tenha passado por momentos de pura felicidade, não é isso.

Afinal o que é o amor? O que é o amar?

Para os cientistas não passa de uma reação química, para os poetas inspiração, algo indescritível, uma antítese como Camões uma vez proclamara:
“Amar é criar um fogo que arde sem se ver, uma ferida que dói sem sentir.”

Eu achava que não entendia o amor. E ainda não entendo! Ele é tão misterioso, envolvente e sedutor. É o prazer casado com a felicidade, casado com a dor. Há vários jeitos de interpretá-lo, de senti-lo.

Como fui tolo ao cogitar que durante toda a minha existência nunca tinha expressado desse tal sentimento, afinal, o que é amar?

O amor é poderoso. Ele vem e vai. É preciso estar de olhos bem abertos, ou melhor, coração bem aberto para poder sentir sua presença. Pois, na realidade, há várias formas de amar. Amor não é aquele famoso estereótipo de um grande coração vermelho ardendo em chamas batendo forte por sua amada. Não é somente as flechas que o cupido atira erroneamente por aí. Não, meus caros. Amar, um sentimento tão puro, que chega a vir do berço, dos braços de sua mãe, dos braços de seu pai, que trabalham arduamente para te entregar uma vida melhor que a deles. Para te cuidar e proteger, ensinar o que é viver. Ele vem dos seus irmãos, de suas irmãs. De sua família: primos, tias, avôs, avós, mas não somente de lá! Oh não! Ele surge de todo lugar. Quando você confia num amigo, quando essa pessoa está sempre lá, te apoiando, te ajudando e até te suportando. Vem de algum professor, que pena por horas tentando fazer-te entender as coisas. Vem dos bichos, de seus cachorros, de seus gatos…  É o sinal de empatia, quando você se importa com o outro. Da gentileza que você gera com as pessoas.

O amor é afrontoso. Ele não se limita em aparecer somente em uma relação entre seres vivos, ele consegue chegar até no mundo material. Como uma pessoa que sempre sonhou em ter um carro. Que trabalhou, juntou grana, deixou de viver só para conquistar seu sonho: um Opalão 8 canecos! E que cuida todos os dias dele. O amor pelo dinheiro, pelo poder que ele traz. Amor por brilhantes, jóias e afins.

Ele chega também no mundo das ideias, onde revolucionários lutam, acreditando em um futuro melhor; Ao se olhar no espelho e se apaixonar. O amor é tão corajoso, que ousa se adentrar no tempo, no passado e no presente, criando memórias saborosas. A lembrança de um momento de puro prazer e felicidade. Pode ser ele a infância, uma viagem ou até mesmo uma transa gostosa. Está no toque de alguém, num olhar, numa fala, num simples sussurro dizendo: “Eu te amo”, o que pode gerar consequências fantásticas. O amor vem e vai, só é preciso estar de olh… coração aberto para senti-lo e abraçá-lo, pois afinal, o que é amar, se não a plenitude de saber que está vivo e bem com aqueles que você se importa? Então sim, eu amei, eu amo e ainda vou amar. Não é um simples romance que vai me limitar. Se dê o luxo de se amar e de amar aos próximos. Deixe esse sentimento penetrar em sua vida. Deixe ele te fazer sofrer, chorar e gritar. Deixe que ele te traga paz, felicidade ou boas memórias. E ame a possibilidade de se permitir amar.





(Diana e o Cupido - Pompeo Batoni - 1761)


quarta-feira, 23 de setembro de 2020

12/08/19


E pelos céus ecoou 

As trombetas celestiais. 

Elétrico, como um raio. 

Ela surge banhada em prata. 

 

Seus olhos negros vislumbram a paisagem. 

Seu doce mel, reflete sobre o fértil pensamento. 

“Beije-a” pensou ele, 

Mas a fumaça havia lhe consumido. 

 

Ela era vibrante,  

Como se a vida lhe corresse por suas glândulas. 

Fúria, 

Ela sorria. 

Queria o mundo e queria agora! 

 

Aos sons de boleros, 

O doce aroma ia embora. 

E as flores pensavam: 

“Será que a veria de novo?” 

Como a maré, 

Que sempre volta de encontro a praia... 

Trazendo novas surpresas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

*Poesia Sem Nome #01*

 

Só quando pude vê-la passar
Seus olhos mostravam-se vivos
O costume de deixar para depois se rendeu
E um sorriso fugiu de seu rosto.

Ela queria,
Mas temia,
Que algo além de seus limites
Pudesse transmitir o que sempre sonhou:
Liberdade,
Amor
E euforia.

Sua hora havia chegado!
Estrelas brilhavam no céu
Mostrando o caminho para a salvação.

Seu nome,
Que transmitia paz,
Jazia selado em sua alma.

O medo se distribuía
E batia em retirada.
Tudo estava
Orquestradamente planejado
Para que a felicidade
Dormisse em seu seio
E gozasse de sua simplicidade.




19/08/2019

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Quando viajei para o ano de 1500


Segunda de manhã.
Oito horas,
Crianças se reúnem à beira do ônibus:
Viagem de catequização.

O Instrutor retoca o rebanho.
Sorrisos estampavam jovem rostos,
a fuga da prisão ainda seria divulgada.
O calor emanava das correntes.

O motor liga,
a vibração passa por todos o passageiros, em forma de energia
química e espiritual.
O xamã lidera o grupo.

A Cidade se agitava, daqui e ali.
Gaivotas cantavam com pombas cinzentas de praça,
O Gol se marcava de longe,
mas agora parávamos no vermelho.

O xamã dá mais um sinal e o ônibus se apruma.
Miremos no espaço.
De cima vimos o mar e
florestas desmatadas.
Bem próximo, há a Lua e a bandeira americana.

 

O cetro volta a apontar pra baixo
e descemos em direção à autoestrada.

 

O xamã corta os outros,
Como um facão cortando a mata.
Logo nos adentramos fundo a selva.
Cruzamos um rio,
subimos uma colina
e Voi-lá!
Chegamos na nossa Igreja.
Aterrizamos numa tribo indígena, a 50 quilômetros dali.

Missão de Catequização. 

O Instrutor dá as boas vindas.
Primeiros contatos,
trocam-se espelhos por vinho.
Porém, antes de interagir,
o cacique nos apresenta o lugar:

Grande casa, onde todos se debruçavam a noite.
A Oca Secular, onde os padres benziam
e ensinavam os evangelhos aos "selvagens".
Um amplo campo de futebol, onde todos agora se encontravam.

Minha memória é fraca,
incapaz de lembrar de tudo.
De longe sentavam eles:
Jovens garotos, de lindos corpos e pele escura.
Meninas formosas, que tentavam imitar a mãe com seus laços e ébanos.
Todos de crânio macio e de alma violentada.
O mundo os judiara.

Agora sofrem com o jejum eterno da manhã.

“Que nos alimentemos, de carne e conhecimento!
Não haverá Um vitorioso. Mas sim!
Duas nações, que antes não se conheciam,
se unindo em prol de Deus”
disse o Padre.

 

Seguimos,
com a bola cerimonial largada ao campo.
Uma gritaria tomou o ambiente
E os sequazes se organizaram contra os nativos.
Foi uma guerra anêmica!

A profecia se deu por vencida
Após duas longas horas
Já não havia mais jogo
Os guerreiros, cansados,
largaram suas armas e
se juntaram a tribo.

Não havia mais dois.

Nos aglomeramos em volta da fogueira
os Deuses rogavam por nós!
O Nosso e os Deles.
Um festival nascerá de nosso ventre.
O xamã pregava seu ritual
junto ao padre,
que comungava com os guerreiros.

Ceamos,
Abraçamos,
Nos despedimos,
Pra trás deixávamos os aborígenes.

 

Aprendemos com eles,
mas agora era hora de voltar pra casa.
Entramos todos para nossa Máquina do Tempo.
O xamã então a invocou.

 

* Vrummmm... *

Adeus,
Adeus a terra indígena,
Adeus a selvageria
Adeus a Floresta.

Enquanto íamos, eles iam se desfazendo
na nossa mente quadrada e ignóbil.
Embora essa tarde não tenha passado de uma projeção em nossos crânios,
suas dores, seus penares, suas almas carcomidas e corpos,
sua luta e seu sofrimento,
ainda reside,
ainda clamam por ajuda.
Nossa religião não gerou os frutos esperados.

E agora retorno
para minha caverna
para pensar. Refletir sobre o acontecido
Retorno ao meu crânio e recito os fatos.
Escrevo a história narrada, como o desenhar de um quadro.

(Eu fui embora, a dor deles não).

18/08/2020




(Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 de Oscar Pereira da Silva, 1865 - 1939)