segunda-feira, 17 de março de 2025

Things Have Changed: Entendendo os significados da música de Bob Dylan


O comentário de Dylan em estar deslocado do mundo, mesmo estando junto a ele - aqui, mas não aqui - se espalha múltiplas vezes em suas canções. Nunca esteve lá desde o começo - Times they are a-changing lançou uma certeza que corria em várias outras canções antigas.

O problema com Times, no entanto, era que a canção mais famosa de Dylan estava fora de sincronia com o resto do álbum, que dizia claramente que os tempos não estavam mudando e que, por exemplo, os horrores da pobreza e exploração rural, ou do racismo e da injustiça, estavam preso na sociedade e nas políticas americanas. 


Então que coisas mudaram? Bem, apenas porque o cantor que antes costumava a se importar, mas agora nem se dá o trabalho de fazer isso.

De fato, foi isso o que Dylan disse abertamente quando ele ganhou o seu Oscar - ele a chamou de uma música que "não anda com rodeios nem faz vista grossa para a natureza humana."

Claro que musicalmente, a partir do desenvolvimento de seu imagético surreal que chegou com o desenvolvimento da instrumentação voltada para o rock no trabalho de Dylan, é possível encontrar mudanças. Mas em termos de natureza humana, do momento em que "Hollies Brown puxa seu gatilho" e "a noite começa a pregar peças quando está tentando ficar quieto" tudo começa a se desmoronar para sempre. Bob tem seus momentos de felicidade em momentos como no interlúdio Country Pie ou em momentos parecidos, mas a sensação que ele deixa em suas obras refletem em como ele é, às vezes se importando e às vezes não.

 Nessas canções, existe uma certa frequência em que o ouvinte se pergunta "O que está acontecendo?" Seja dentro ou fora da música. Mas, se há uma canção onde mais se encontra essa indagação é em "Things Have Changed".


Um homem preocupado
Com uma mente preocupada
Ninguém na minha frente
E ninguém atrás

O verso inicial é o suficiente para guiar o destino da canção, ou melhor, que não se faz ideia de qual direção ela poderá ir. E quando menos se espera, o ouvinte percebe que o cantor está falando sobre uma mulher "bebendo champanhe, com sua pele branca e olhos de assassino."

"Olhos de assassino? O que seriam olhos de assassinos?" Não fica bem claro, já que ela vem de outro mundo. Aqui, o deslocamento é completo. A única certeza é de que há um olhar e pronto.


De pé na forca
Com a cabeça em uma corda
A qualquer momento
Espero que o inferno se espalhe

Neste mundo, as pessoas vêm e vão, falando, mas sem dizer nada. O passado ainda não aconteceu, o futuro foi ontem. Eu sou você, você é ele e ele não é. T.S. Elliot chuta seu verso para o subconsciente de Dylan mais uma vez: 

Ruas que seguem como um argumento tedioso

De intenção insidiosa

Para levá-lo a uma pergunta esmagadora

Oh, não pergunte "O que é?"

Vamos fazer nossa visita

Na sala as mulheres vêm e vão

Falando de Michelangelo.

A névoa amarela que esfrega suas costas nas vidraças,

A fumaça amarela que esfrega seu focinho nas vidraças,

Lambe suas línguas nos cantos da noite,

Permanece sobre as poças que ficaram nos ralos


É claro que ele deveria estar em Hollywood, fazendo aulas de dança, vestindo-se de Drag. Ele deveria, pois aqui já não resta nada para se provar. O problema é que em todo lugar, não há nada a se provar, a névoa amarela envolve tudo.

Sua voz está cansada e o acompanhamento controlado e bem ensaiado, o pulso moderado, não tem nenhuma tentativa de se tornar uma performance virtuosa, não há nenhuma mudança inesperada de acordes, porque não são os músicos individuais que fazem o ponto - o ponto é a situação, aquele mundo que deu errado. Naquele mundo, é possível se apegar a constância da música, porque não há outra constância. 


Sinto como se estivesse me apaixonando

Pela primeira mulher que me aparecer

Colocando-a em um carrinho de mão

E a empurrando pela rua

(Onde mais se colocaria uma mulher de olhos assassinos enquanto uma névoa amarela se enrola ao redor e as classes cultas falam sem dizer nada?)


E quando o ouvinte já se acostuma com a estranheza e começa a criar clareza com o que Dylan diz, ele subitamente...

Sr. Jinx e Sra. Lucy pularam no lago

Eu não estou tão ansioso para cometer um erro

Sr. Jinx era um personagem do desenho Pixie e Dixie. Hoje, o Sr. Jinx está disponível em diversos merchandisings. Talvez fosse um momento passageiro do personagem de desenho animado, ou talvez seja uma reflexão, para mostrar que ele também não é real. Exceto que não há distinção entre real e irreal.

E a música continua, usando sua rotina de três acordes com acompanhamento simples. O cantor não fica animado. Existe um continuum, mas continua não fazendo nenhum sentido. 


Link para a música Things Have Changed.

Link para o momento em que Bob Dylan ganha um Oscar.




Fonte: Things Have Changed: The meanings behind the Bob Dylan's song

Traduzido por: Cris del Mar

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